Incrível
como o tempo nos ensina tantas coisas na vida, e como, às vezes,
levamos tempo para aprender... E aprender sobre o tempo, essa lição,
por vezes nem com todo o tempo do mundo aprendemos.
Conto
tempo para tudo, e costumo dizer que sou do tipo que “Quanto mais
cedo, mais cedo”, ou seja, quanto mais cedo eu começo, mais cedo
eu termino, e assim vai minha teoria sobre o tempo… Ledo engano o
meu …..
Outro dia
eu tive mais uma lição de vida, ou deveria dizer de VIDAS ? Tinha
consulta marcada às 8:30 h da manhã em um hospital, e esta já
estava marcada há duas semanas. Desde o dia anterior já estava tudo planejando
como seria a esquematização de meu tempo, para chegar na hora na
consulta, e sair na hora, ou o mínimo atrasada possível, do meu
trabalho no final do expediente. Tudo certo em minha cabeça: dormir
às 22:30h, acordar às 5:30h, academia às 6:00h, voltar da academia às
6:40h, sair de casa às 7:20h, chegar no médico às 8:00h, e com isso,
no máximo esperar 30 minutos para ser atendida, levando-se em conta
que a consulta demoraria 15 minutos. Bingo! Teria 30 minutos para
chegar ao trabalho e com isso só me atrasaria 55 minutos.
Comecei
o dia até dentro do esperado, e deu quase tudo certo até chegar às
8:04 na clínica. Cheguei, entrei, sentei, e só tinha uma pessoa
antes de mim, que não seria atendida na minha frente, já que eu
seria a primeira. Em seguida, entra um casal, muito distinto, com seu
filho e junto com eles, uma grande lição de vida... Senti-me mal e
pequena com a grandiosidade daquele pai, já que eu era pura agonia
naquele lugar, odiando aquele tempo de espera. Mãe entra e senta,
pai entra com o filho de mãos dadas e não se desgrudam nem um
minuto. Talvez o rapaz tivesse 15,16 anos mas com necessidades tão
especiais, que o que mais me impressionou foi quão especial era
aquele filho para o pai, e aquele pai para aquele filho. Lindo.
Divino.
Aquele
rapaz não sabia se expressar por completo na nossa língua,
balbuciava poucas palavras, incluindo “EU” e “PAI”, mas o
coração daquele pai entendia tudo o que ele precisava, de maneira
doce, terna, e sobretudo, com uma paciência, entrega e dedicação
total do seu tempo a ele, que me impressionava quão grande pode ser
a abnegação do ser humano quando o amor fala mais alto. O choro foi
a primeira vontade que tive de fazer, mas não podia, não ali
demonstrar o que eu estava pensando e sentindo naquele momento.
Não
que a mãe não merecesse aplausos por seu desempenho como mãe,
merecia sim, mas aquele pai, aquele pai mereceu todos os meus
pensamentos nas quase duas horas que ali fiquei.
E
daí eu pensei, que passo os dias calculando os minutos do meu dia e
esse pai sem ter a menor impaciência na espera, doando todo seu
tempo, não aquele passado na antessala de um consultório, mas de
sua vida em si, àquele outro ser que depende tanto dele, sem contar
segundos e minutos.
Ao
mesmo tempo que eu admirava esse desprendimento do pai,
impacientava-me pela demora da médica, que só chegou às 9:40h e
ainda chamou a gerente do banco dela antes das 15 pessoas que a essa
altura já a aguardavam. Levantei-me e fui expor minha indignação
com aquela cena que parecia que só eu tinha notado. Será que só eu
tinha notado, ou apenas eu que ainda não tinha aprendido a lição
??? Pessoas com doenças graves não sentiam a impaciência que eu
estava sentindo pelo demora escandalosa de começar a atender, e mais
ainda, de se ter encaixado uma pessoa que só fazia 2 minutos que
estava ali antes de todo mundo. Antes de mim. Absurdo. Ultrajante,
pensei... Ante o absurdo da cena, e pela raiva que senti daquilo,
comecei a sentir sentimentos tão contrapostos, que só consegui me
acalmar quando a médica veio me pedir perdão pelo ocorrido,
desmanchando-se em sorrisos, tranquilidade e atenção...
Na
saída do consultório enviei logo um torpedo informando que
finalmente, depois de 1:30h de atraso eu estava indo ao trabalho.
Passei em quase todos os sinais de uma avenida movimentada quando no
semáforo mostrava apenas 01 segundo para fechar … Ah, o tempo …
Não
somos nós que mandamos nele, mas ele se mostra magistral diante de
nossos olhos para que saibamos que nós não o dominamos, ele apenas
nos dá a oportunidade de o vivenciarmos, para que extraiamos algo
para nossas vidas.
Assim,
a lição que eu já sabia, veio naquele dia me visitar de uma forma
bastante sutil. Veio reavivar na minha memória que palavras como
PACIÊNCIA, ESPERA e ABNEGAÇÃO andam junto com o TEMPO, com a
SABEDORIA e com o AMOR.
Ser
mais tolerante com o tempo é ser mais tolerante com as pessoas e
consigo. Ser paciente é saber apreciar o que nos rodeia, e quem nos
rodeia. Ser sábio é sabermos extrair de cada momento o que aquilo
quer nos mostrar para que aprendamos e possamos nos tornar pessoas
melhores com os exemplos que se escancaram a frente de nossos olhos.
Talvez
eu não mude nunca. Talvez eu continue a ser a agoniada e estressada,
contadora de minutos e impaciente que sempre fui, mas com certeza
aprendi que não posso mandar no tempo, domando-o para que ele se
ajuste a mim pois o tempo é senhor de si mesmo e um professor
maravilhoso na matéria da vida, e que, cabe a nós moldar-nos a ele,
e não nós moldá-lo aos nossos caprichos. Creio que dessa vez eu
assimilei o ensinamento. Ao menos, eu espero.