quarta-feira, 5 de março de 2014

Um céu de infinitas possibilidades

A vida, por vezes, é engraçada sem ser cômica. Ela nos leva a refletir o caminho que escolhemos seguir a cada dia quando acordamos, e não é difícil que ela mude tão rapidamente em menos de um segundo.
Acordamos, fazemos planos para um espaço temporal de um dia, uma semana, um mês, um ano, uma vida e nos vemos seguir por uma estrada totalmente diferente daquela que havíamos imaginado.
Não sei dizer porque isso acontece, mas acontece... Levar a vida ao sabor do vento, sem as rédeas que, se não amarram, nem prendem, deveriam ao menos servir para nos orientar, tal qual uma bússola, mesmo que, na prática tenham finalidades diversas.
Conheço pessoas que têm uma incrível capacidade de seguir planos e metas à risca. Que ao final de um ano já traçam o que pretendem conseguir ao final daquele ano que ainda nem começou. E conseguem...
Eu gostaria de ser assim, até tento, mas a cabeça  cheia de planos e projetos riscados, traçados, esboçados, é agora uma coisa e, um segundo depois, outra. Boas ideias surgem, e junto a elas a certeza que não são tão boas, caso contrário alguém já as teria pensado. Ah, a eterna insegurança e autocrítica, que mais tolhem e matam do que motivam e edificam.
Esses eternos pensar, planejar, esboçar, só nos são saudáveis e úteis  se um dia saem da esfera de rascunho e entram para a esfera de projeto executivo com todos os detalhamentos definidos, prontos para a sua execução.
Ah como seria melhor termos menos ideias e mais práticas, ou quiçá, todas as ideias que tivéssemos,tirássemos da base utópica para a mais fantástica realidade.
Refletir sobre isso é aprender que o melhor é arriscar pôr em prática um ideia que achemos boa do que risca-la da cabeça sem nem ao menos tentar ver até onde ela poderia nos levar.
Ideias são como pássaros, para sabermos até onde elas podem nos levar temos que deixa-las livres, soltá-las da gaiola de nossos receios, autocrítica  e insegurança para seguirem o caminho que havíamos imaginado para elas. Talvez um céu infinito de possibilidades e sucesso se nos permitíssemos a isso.


                                                        Fonte foto: Arquivo pessoal

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Roupa velha, roupa nova...

Por que é tão difícil nos desfazer de nossas roupas velhas ? O que nos faz guardar aquilo que, às vezes, sabemos que nunca mais iremos usar de novo ? Será tão difícil assim deixarmos passar aquilo que sabemos que não nos cabe mais ?
Essas perguntas são tão recorrentes em nossas cabeças, e até hoje ainda reverberam em muitas mentes  questionadoras...
As roupas que já tomaram as formas de nossos corpos são, com certeza, mais confortáveis do que aquelas que ainda não "nos conhecem". Sabem o caimento dos nossos ossos, diz até, o dito popular, que são capazes de andarem sozinhas e que vão de olhos fechados para onde costumamos ir, e que  conhecem intimamente até os nossos vãos pensamentos...
Creio que seja isso mesmo. É tão mais fácil convivermos com o que conhecemos, que relutamos em trocar o "certo" pelo "duvidoso". Mas, e quando o certo não é mais tão certo, ou já nos proporcionou tudo o que poderia proporcionar, afinal, tudo tem sua vida útil, até mesmo as nossas roupas velhas ????
As roupas puídas pelo tempo, pelo uso exagerado, pela má conservação, pelo tamanho inadequado, ou mesmo pela falta de uso, já não podem mais serem vestidas, então, por que as guardamos como se ainda nos servissem ??? Talvez seja o apego pelo bem, ou pela memória afetiva que ela nos remetem... Seria o conforto de saber que aquilo ainda está conosco, que ainda nos pertence...
As roupas que guardamos  ainda nos caberão novamente ??? Guarda-las ??? Doa-las ??? Não sabemos agora. Saberemos depois ??? E depois, não poderá ser tarde demais de nos desfazer dos excessos que por tanto tempo guardamos sem nem ao menos vislumbrarmos, de verdade, uma nova oportunidade de as usar mais uma vez, ou algumas vezes.
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos".
Fernando Pessoa


Foto: Outono em Lisboa. Arquivo Pessoal


sábado, 22 de junho de 2013

Amarras soltas. É hora de voar ....

Ser livre e sentir-se preso é tão comum entre as pessoas, que as amarras que as prendem, por vezes, são mais fortes que o mais forte dos  metais, embora só existam em suas mentes e/ou seu corações.
 
Ser livre, como questão de opção, deveria ser a opção mais razoável a se fazer, mas não para todo mundo essa escolha é fácil. Devemos então ajudar a essas pessoas a encontrarem seus caminhos e não confundi-las mais, com opiniões desarrazoadas ou  sem fundamentos.
 
Não podemos ajudar ? Então não devemos atrapalhar. Deixar que as pessoas abram suas portas, suas janelas, soltem suas amarras e busquem, principalmente o caminho da felicidade a que todos têm direito de viver.
 
A liberdade de voar alto, de correr mais rápido que for possível, de respirar o ar puro que entre pelos pulmões e nos impulsionem ainda mais, com fôlego, a buscar tudo aquilo que nos propusermos a conquistar em nossas vidas.
 
Nem passarinho gosta de gaiola, e, definitivamente a vida é muito efêmera para não voarmos com urgência em busca do nosso pedacinho da felicidade.
 
Felicidade livre de amarras para que possamos voar o mais alto que nossos sonhos conseguirem chegar.
 


                                                                                                 Crédito da foto : http://olhares.uol.com.br/o-poder-da-liberdade-foto5250846.html




sábado, 25 de maio de 2013

Quando a brisa sopra...

Orvalho sobre as folhas num prenúncio que mais um dia está nascendo.

Olho pela janela do quarto e me deparo com aquela bola de fogo que sai por trás do mar... Um mar tranquilo e sereno que não demonstra se incomodar com tal calor que parece tocar em sua superfície.

Tal como o sol toca a água, ele nos toca também. Talvez a sensação do toque seja diferente. O calor a esquentar a pele e o vento a desalinhar os cabelos e encher os pulmões de um ar tão fresco e suave que me impulsionam e encorajam a seguir o dia com força e fé nas providência divina que DEUS me reservou para aquele dia.
Deveríamos ser pessoas inovadoras, desafiadoras, transgressoras, nem que fôssemos por um só momento, por um só motivo. Mas nem todos nós somos. De fato, não somos.
A vida passa rápido demais e o presente que nos foi dado quando nascemos, por vezes, nem o usamos direito, e, quando não, descobrimos tarde demais onde se ligava o "Enter" de nossa felicidade nesse brinquedo chamado Vida.
Questiono-me  muitas vezes quão diferente poderíamos agir, e o quanto desperdiçamos nossas vidas. Viver pela metade, devagar, pausadamente, negligenciando as oportunidades de felicidade que por vezes batem à nossa porta e não a identificamos corretamente.

Deixar a felicidade passar batida é um risco temerário que corremos quando achamos que aquela não era bem a chance que buscávamos. Mas como ter a certeza ? Como não se enganar ? Recuperar a chance perdida é quase tão difícil, quiçá impossível, como "despisar" a pedra tocada um segundo atrás. 
Oportunidades vêm e vão, e esse é o medo maior que devemos ter . Até quando elas terão esse movimento de onda de mar ? Maré baixa, maré cheia, maré baixa, maré cheia ...  Quando elas se apresentam  a nós, muitas vezes não a pegamos por acharmos que "a maré" vai trazê-las de volta noutra oportunidade, mas nem sempre a trazem. 
Lembro-me de uma história que li sobre uma das expedições de Amir Klink à Antartida, quando ele conta que, assim que chegou lá presenciou um fenômeno extraordinário, e que, na oportunidade não o registrou por algum motivo irrelevante, pois, achava que depois poderia registrar com mais calma. Ele ficou nessa expedição por um ano ou mais, mas aquele evento não se repetiu e ele perdeu aquela oportunidade única que lhe foi dada e que deixou passar por pensar que teria uma nova chance.
Muitas vezes nos sentimos nesse vazio de expectativas. Não contribuímos com o movimento da maré, e assim, sentimos o peso desse marasmo. Sentimos pelas horas que passam e que não edificamos a nossa felicidade nelas. O vazio que nos bate é do mesmo tamanho do grito ensurdecedor que tenta ecoar em nossos ouvidos e que cansamos de tanto ouvir. 

Poderíamos construir histórias diferentes, mais alegres, mais coloridas, menos solitárias. Não deveríamos  ter medo do escuro, mas sim da solidão. A solidão desacompanhada. A felicidade não construída talvez seja mais cruel com o passar do tempo do que aquela desconstruída. O vazio dos dias, do dia após dia, do não fazer, do deixar de fazer, do deixar de viver ...

O dia segue e, ao movimentar do sol, do leste ao oeste, a vida vai seguindo também no seu compasso ritmado para todos nós, esperando que ajamos na busca do direito de sermos felizes.


Foto: Arquivo pessoal

                           

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O Mar da Vida



"MAR PORTUGUÊS

 Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."

Fernando Pessoa


Às vezes temos que cruzar mares para encontrar o que buscamos.
Às vezes movemos céu e terra para termos direito de navegar nesse mar.
Às vezes pensamos que está do outro lado, no além-mar, o que sonhamos, e nem está.
Às vezes nem nos sonhos encontramos o que parecia ser o que queríamos, o nosso ideal.
Às vezes é na busca que descobrimos que não adianta buscar.
Às vezes é no atravessar do mar que nada demais encontramos e que descobrimos que o nosso tempo foi em vão...
Mas são nesses "às vezes" que nunca devemos parar de buscar, de buscar-nos ...

Por isso, na dor do poema Mar Português, de autoria de Fernando Pessoa, a chegada mostra que haverá sempre um céu iluminado para espelhar qualquer tormenta ... E como não admirar o céu, o mar e a lua?

Seguir a navegação da nau na esperança que a lua venha sempre "pratear" o oceano da vida ...

Mas.... a vida é assim mesmo.... Na busca da felicidade corre-se o risco de nunca a encontrar.
Fazer o que ? Como disse Cora Coralina em um de seus brilhantes escritos:
"Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende. Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir".

E assim o mar da vida segue, e devemos sempre decidir por sermos felizes, e como dizem os adictos, nem que seja somente por hoje ...







 







terça-feira, 4 de setembro de 2012

Apenas Um Grão de Areia ?

Engraçado como às vezes pequenos detalhes fazem grande diferença. Na vida de quem  faz. Na vida de quem recebe.

Perceber isso talvez seja a melhor maneira de nos mantermos sempre de acordo com nossos pensamentos. Alinhados às nossas crenças de que só levamos da vida a vida que levamos.

Plantar o bem, colher o bem. Dar amor, receber amor.

Sigo dias olhando os detalhes das coisas e percebendo que estou no caminho certo.

Caminho reto, nem sempre o mais curto, mas com certeza o mais rápido para se chegar à paz interior e ao amor de DEUS.
 
Assim são os dias calcados nos ensinamentos de DEUS e que Santo Agostinho tanto pregava:

"A pessoa que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar."

Pode ser para muito apenas um grão de areia, mas com certeza na vida de alguém pode ser o solo firme para se apoiar e sobre ele seguir em frente ...

Espalhemos, e sigamos, então essa grande lição de vida.



Site da imagem: http://presentepravoce.files.wordpress.com/2010/07/pegadas-na-areia.jpg

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A gaveta Virtual de Memórias




 Remexendo pertences encontrei meus desenhos que fiz quando criança.

Toda criança curte fazer "arte". Nossaaa, como eu curtia. Ao chegar na casa de minha tia aos domingos,  para a visita familiar semanal , a primeira coisa que pedia era: Tia, posso pegar papel e lápis ??? A resposta invariavelmente era: Claro, querida. Como eu já sabia onde ficava, após autorização  dada, já que minha mãe não admitia que chegássemos à casa dos outros metendo a mão no que não era nosso sem pedir, ia direto na primeira gaveta do móvel da sala e já pegava o material que parecia que tinha sido "abastecido" justamente para tal finalidade.
Sentava à mesa de jantar e me coloca a desenhar ... Desenhava de tudo, pintava e depois fazia as dedicatórias. Geralmente para minhas tias, que os guardavam, e anos depois os tive de volta num gesto de que seria importante para mim guardar aquele tesouro. 
Os desenhos que eu fazia em minha casa permaneceram, os que eu recebi de volta, nem todos.
Alguns se perderam por terem sido "devidamente" jogados fora por uma funcionária que trabalhou em minha casa. Para ela poderiam ser apenas papéis, para mim eram muito mais que isso.
Sinto muito  que as histórias que eu criava foram na leva da funcionária. Eram historinhas ótimas, ao menos, muito elogiadas, por professoras, família e todos que as liam.
Agora voltei a ter vontade, necessidade, de tornar a escrever, talvez para exercitar, pois tudo aquilo que não se é treinado fica mais difícil de ser realizado com o passar dos anos, talvez apenas para deixar num arquivo que não possa ser levado por mãos descuidadas e desinteressadas no que faz.
Blog é bom por isso, faz o papel de gaveta. A gaveta que não é física. Que não amarela as páginas, e nem as deixam com cheiro de papel guardado. Aqueles papéis que, quando já tão velhos, não podem mais ser manuseados sem causar algum desconforto para quem os folheiam. Esse papéis já não os posso guardar. As alergias adquiridas me fizeram afastar de tudo o que possa me deixar sem ar, sem voz, sem fôlego, como bolor e cheiros ativos. 
O blog, com isso, veio me salvar. Salvar minhas memórias e minhas histórias. Pena que não mais aquelas já produzidas e desaparecidas fisicamente, mas quem sabe, aquelas que a caixinha da cabeça permitir aflorar o que há muito não lembrava e criar outras tantas que a vivência e a imaginação conceberem. 


domingo, 26 de agosto de 2012

Impressões pela janela...

Estou aqui, noite de sábado,  digitando no note impressões que me acompanham.
Por ora fico a imaginar o que acontece com a vida de cada um de nós. Como cada um chega onde chega...
 
Olhando pela varanda da sala,  fico admirando as luzinhas de cada casa, contemplando a pessoa que passa pela janela da cozinha e pega uma água na geladeira, o bebê que brinca na mesinha instalada junto ao sofá da sala, ou o jovem que se esparrama no sofá para ver um mero programa de TV, como se nada mais fosse interessante, ou possível de se fazer naquele momento.
 
Eu "gasto" , ou devo dizer "emprego" , meu tempo livre estudando para concursos. Como me cansa essa rotina. Rotina a qual me submeto a quase uma década na esperança de um dia não mais precisar cumprir o mesmo ritual imposto esse tempo todo.
 
Canso em pensar que o que considero uma opção de vida, uma abdicação momentânea (mas como está longa a espera...) para uma reconpensa duradoura . Fico imaginando quantos passeios  com amigos deixei de fazer, quantas horas de lazer deixei de aproveitar, quando descanso ao meu corpo, mente e alma eu não dei ... Como deixei meu coração de lado para seguir a minha "razão".
 
Sei que a razão é mais que justa, o propósito é mais que válido, mas o futuro é tão incerto... 
Sinto-me por vezes, muitas vezes, espectadora de minha própria vida. Sinto-me aquela mulher parada à soleira da porta , ao parapeito da varanda, olhando a vida passar... A minha vida passar, sem nada fazer... Fazendo o que eu acho que deve ser feito, mas sem fazer de fato, aquilo que gostaria de fazer.
 
Mas, como se diz a história, os meios, esses, vêm antes dos fins... Para chegar ao ponto final é preciso antes usar de muitas vírgulas, ponto e vírgula e reticências...
 
Sei que busco mas não sei se alcanço. Sei o que quero mas não sei se me será possível chegar a ele.
 
As conquistas estão vindo, vagarosamente, ao menos, como se diz em direito, a EXPECTATIVA DO DIREITO está vindo. E essa espera, que faz parte do  jogo da vida é que amedronta.
 
Ao final do dia rezo, peço a bênção de meus pais e de DEUS e sigo mais um dia, e outro e outro...
 
Quero muito deixar a soleira da porta e o parapeito da varanda e me juntar à minha vida, juntar sonho com realidade,  expectativas com realidade ...
 
Sentir o cheiro do sucesso e saber que tudo valeu a pena.  Creio muito nisso. Que ando pelo caminho certo. Que as pedras pisadas me formarão o caminho que terá valido a pena seguir, que me dará a paz, tranquilidade e sucesso que busco. Que muita gente busca.
 
Portanto não desisto. Persisto. Não posso desistir. O caminho andado já é tão extenso que não consigo mais olhar para trás e ver o ponto de partida. prefiro olhar para frente e ver a linha de chegada. A fitinha da linha de chegada balançando ao vento preste para ser cruzada e rompida, após o cansaço, após a exaustão ... Mas ela vai chegar tenho certeza .
 
Afinal, como já vi inúmeras vezes sendo "curtida" e "compartilhada" uma frase muito sábia : "DEUS não demora , ELE capricha" .
 
Vou fazendo a minha parte... Peço a DEUS ser digna do capricho da Providência Divina.
 
Rezo. Creio. Espero. Conforto-me Nele...

domingo, 19 de agosto de 2012

O Tempo


Incrível como o tempo nos ensina tantas coisas na vida, e como, às vezes, levamos tempo para aprender... E aprender sobre o tempo, essa lição, por vezes nem com todo o tempo do mundo aprendemos.

Conto tempo para tudo, e costumo dizer que sou do tipo que “Quanto mais cedo, mais cedo”, ou seja, quanto mais cedo eu começo, mais cedo eu termino, e assim vai minha teoria sobre o tempo… Ledo engano o meu …..

 Outro dia eu tive mais uma lição de vida, ou deveria dizer de VIDAS ? Tinha consulta marcada às 8:30 h da manhã em um hospital, e esta já estava marcada há duas semanas. Desde o dia anterior já estava tudo planejando como seria a esquematização de meu tempo, para chegar na hora na consulta, e sair na hora, ou o mínimo atrasada possível, do meu trabalho no final do expediente. Tudo certo em minha cabeça: dormir às 22:30h, acordar às 5:30h, academia às 6:00h, voltar da academia às 6:40h, sair de casa às 7:20h, chegar no médico às 8:00h, e com isso, no máximo esperar 30 minutos para ser atendida, levando-se em conta que a consulta demoraria 15 minutos. Bingo! Teria 30 minutos para chegar ao trabalho e com isso só me atrasaria 55 minutos.

Comecei o dia até dentro do esperado, e deu quase tudo certo até chegar às 8:04 na clínica. Cheguei, entrei, sentei, e só tinha uma pessoa antes de mim, que não seria atendida na minha frente, já que eu seria a primeira. Em seguida, entra um casal, muito distinto, com seu filho e junto com eles, uma grande lição de vida... Senti-me mal e pequena com a grandiosidade daquele pai, já que eu era pura agonia naquele lugar, odiando aquele tempo de espera. Mãe entra e senta, pai entra com o filho de mãos dadas e não se desgrudam nem um minuto. Talvez o rapaz tivesse 15,16 anos mas com necessidades tão especiais, que o que mais me impressionou foi quão especial era aquele filho para o pai, e aquele pai para aquele filho. Lindo. Divino.

Aquele rapaz não sabia se expressar por completo na nossa língua, balbuciava poucas palavras, incluindo “EU” e “PAI”, mas o coração daquele pai entendia tudo o que ele precisava, de maneira doce, terna, e sobretudo, com uma paciência, entrega e dedicação total do seu tempo a ele, que me impressionava quão grande pode ser a abnegação do ser humano quando o amor fala mais alto. O choro foi a primeira vontade que tive de fazer, mas não podia, não ali demonstrar o que eu estava pensando e sentindo naquele momento.

Não que a mãe não merecesse aplausos por seu desempenho como mãe, merecia sim, mas aquele pai, aquele pai mereceu todos os meus pensamentos nas quase duas horas que ali fiquei.

E daí eu pensei, que passo os dias calculando os minutos do meu dia e esse pai sem ter a menor impaciência na espera, doando todo seu tempo, não aquele passado na antessala de um consultório, mas de sua vida em si, àquele outro ser que depende tanto dele, sem contar segundos e minutos.

Ao mesmo tempo que eu admirava esse desprendimento do pai, impacientava-me pela demora da médica, que só chegou às 9:40h e ainda chamou a gerente do banco dela antes das 15 pessoas que a essa altura já a aguardavam. Levantei-me e fui expor minha indignação com aquela cena que parecia que só eu tinha notado. Será que só eu tinha notado, ou apenas eu que ainda não tinha aprendido a lição ??? Pessoas com doenças graves não sentiam a impaciência que eu estava sentindo pelo demora escandalosa de começar a atender, e mais ainda, de se ter encaixado uma pessoa que só fazia 2 minutos que estava ali antes de todo mundo. Antes de mim. Absurdo. Ultrajante, pensei... Ante o absurdo da cena, e pela raiva que senti daquilo, comecei a sentir sentimentos tão contrapostos, que só consegui me acalmar quando a médica veio me pedir perdão pelo ocorrido, desmanchando-se em sorrisos, tranquilidade e atenção...

Na saída do consultório enviei logo um torpedo informando que finalmente, depois de 1:30h de atraso eu estava indo ao trabalho. Passei em quase todos os sinais de uma avenida movimentada quando no semáforo mostrava apenas 01 segundo para fechar … Ah, o tempo …

Não somos nós que mandamos nele, mas ele se mostra magistral diante de nossos olhos para que saibamos que nós não o dominamos, ele apenas nos dá a oportunidade de o vivenciarmos, para que extraiamos algo para nossas vidas.

Assim, a lição que eu já sabia, veio naquele dia me visitar de uma forma bastante sutil. Veio reavivar na minha memória que palavras como PACIÊNCIA, ESPERA e ABNEGAÇÃO andam junto com o TEMPO, com a SABEDORIA e com o AMOR.

Ser mais tolerante com o tempo é ser mais tolerante com as pessoas e consigo. Ser paciente é saber apreciar o que nos rodeia, e quem nos rodeia. Ser sábio é sabermos extrair de cada momento o que aquilo quer nos mostrar para que aprendamos e possamos nos tornar pessoas melhores com os exemplos que se escancaram a frente de nossos olhos.

Talvez eu não mude nunca. Talvez eu continue a ser a agoniada e estressada, contadora de minutos e impaciente que sempre fui, mas com certeza aprendi que não posso mandar no tempo, domando-o para que ele se ajuste a mim pois o tempo é senhor de si mesmo e um professor maravilhoso na matéria da vida, e que, cabe a nós moldar-nos a ele, e não nós moldá-lo aos nossos caprichos. Creio que dessa vez eu assimilei o ensinamento. Ao menos, eu espero.